metáfora, nostalgia, repetição e contradição

16:17


Já não sei que restos são estes que me possuem, se sentimentos ou mesmo destroços de uma alma outrora desgastada, despedaçada. Não sei se serei lua, sol, ou a mais insignificante estrela do universo. Se sou tempo ou espaço, se possuo ou sou possuída, se sou vontade, se sou desejo ou sou desejada, se sou flor ou ar que os meus pulmões reprimem. Se ilumo ou sou iluminada, se sou passado, presente ou futuro, se sou aqui ou ali. Se sou contradição ou metáfora. Não sei se sou certeza ou incerteza. Se sou força ou fraqueza. Se sou mar ou se tenho mar. Se sou fúria ou se a sinto. Sou amor e ódio, paz e guerra.
Mas, acima de tudo, não sei se sou vida ou se porto vida, se vivo ou sobrevivo, se sinto ou sou sentida, se quero ou sou querida. E, se no fim de todo o turbilhão de dúvidas eu tiver de escolher uma apenas? Entre amar e ser amado, entre ser solitária ou execrada.
Todas as palavras foram gastas, e só resta este corpo que consumiste tu, e todos que te rodeiam. Já não sou presença nem ausência. Não sou granada nem oxigénio, nem amor nem ódio, nem vida nem morte. Não sou fígura estilística, não sou exemplo nem má acompanhante.
Estou só, sempre estarei só, mesmo que rodeada por muito, com muito e de muito.
Há em mim uma ideia de pureza que só tu consegues visualizar. Há vidro opaco nos meus olhos, mas nos teus não, não me permite ver a paisagem, vislumbrá-la nem me deixa sentir o que ainda existe em mim por aqui e por ali.
Neste momento não sei qual a fonte de todo o calor mortal, mas sinto alguém, sinto-te. “Amor? Amor?” Do mais profundo canto dos meus olhos vejo-te de sorriso nos lábios, e haverá melhor sensação que essa?, pergunto-me. Vejo-te aproximar e ficar mais longe a cada passo em minha direção. Estico-te a mão para que a alcances, mas pareces nunca chegar.
Ajuda-me a sair deste beco. Quero ver o que vês nos meus olhos.
Tudo em meu redor fica turvo, enevoado. Sinto todos os meus músculos presos a algo inconcreto, a minha cabeça plana pelo nosso universo, e quando abro os olhos enxaguados, sorrio ao sentir o teu perfume, na nossa cama. O sol invade o quarto, e cada raio de sol aponta para o teu retrato na cabeceira, será esse o sinal de que sol és tu e consequentemente, lua sou eu? Não será metáfora, ou apenas coincidência.
Sou afinal chuva que cai e sol que se põe, o passado e a ânsia do futuro, tudo e nada. Sou ser errado, mas creio que tudo que é errado, somado, de alguma forma dá certo e por vezes, tudo certo é errado e sem estima. Sou as palavras proferidas e a falta delas, sou o espaço que existe entre nós e aquilo que nos une.
Sou a saudade, a tua e a minha e ter saudade é comprovar que houve passados que permaneceram em nossos corpos e perfuraram as nossas memórias, não se expiraram, valeram de nós e a pena.
Mas o vento afastou-me de mundos, levou-me de mim envolta em plurais.

You Might Also Like

0 comentários