Em tua memória...

11:32


               Vagueio inconsolável, inquieta por este quarto que me enfatiza o espírito com os episódios do passado. Caio em mim e apetece-me cheirar a luz do dia. Abro a janela, o luar penetra-me os ossos, a carne, a alma… Não consigo inalar o seu cheiro, sinto-me tão fraca e incompleta.

Mas no seu entretanto, depois de olhar novamente as memórias da minha alma - que plana no mundo dos espinhos de ponta redonda e das espigas coloradas com pó de arroz cada vez que as vê cegamente - apercebi-me que a meu lado tenho a luz. E não preciso de ir à janela cheirar e tentar aproximar o meu ser de outras que contraponham a mágoa ao sorriso dialeto, aquela luz eternizará no meu coração, abafando-o de compaixão, sendo esta tão vultuosa que me envolva num ápice no companheirismo dos seus braços.

                A nossa amizade são flores, e as cores em si refletidas… Os corpos perdem-se, envelhecem no desfolhar do tempo, a alma desprende-se do que fio que te liga ao mundo, parte carnal, sistema físico químico… Foi-se… Dispersaste-te, tornaste-te parte carnal da terra e da vida… E eu mal posso acreditar…

E aqui me vejo eu. A saudade de quem nunca esqueceu, as mágoas de um receio perdido, as dores de uma doença quebrada, os odores dos cheiros mais esverdinhes, dos cheiros apodrecidos pela alfazema, aqui te vejo eu. Como se me possuísses sem saber, ocultado pelas forças de quem nunca me vai ver, ter, tocar, sentir? Aqui te vejo eu, como se escondida pelas conchas e dejetos que viajam regaladamente sobre a tua corrente.

Deixei então… Deixei que aquela cor branca, de tão branca que se esculpia, redigisse em meu caminho aquele branco que é mais neblina e lixívia que o branco do olhar que tanto me fascina, lá, no longe que tanto desejo, que tanto desejo não desejar…

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